A descoberta de uma gravidez envolve um misto de emoções e preocupações, desde o que se pode ou não pode fazer estando grávida, a decoração do quarto, o chá de bebê, e... O parto. Assustador para algumas mulheres, a ideia de ter um bebê envolve muitas dúvidas e medos, e o maior responsável por todo este estado de tensão que a futura mamãe sofre vem pela falta de informação, ou pelo excesso de opiniões erradas que se ouve de pessoas mais “experientes”. Enfim, todos querem ajudar neste momento, então vamos tentar esclarecer este dilema. Parto normal ou cesárea, o que será melhor para mim?
Estamos passando por um movimento em relação à forma de nascer que atinge diversas partes do mundo. Durante anos o parto foi visto como um procedimento médico, cheio de intervenções, incluindo anestesias, medicações, cortes, internação entre outros procedimentos hospitalares. O que se está discutindo é até que ponto esta forma hospitalar e intervencionista é necessária; assim, o parto está voltando a ser encarado como deve ser: um processo normal e fisiológico. Claro que existem situações de risco onde se fará uso de todo aparato para que o nascimento aconteça preservando a vida da mãe e do bebê; portanto a avaliação da gravidez por um profissional de saúde será de grande importância nesta escolha.
Cesariana
É um procedimento cirúrgico realizado para alívio de condições maternas ou fetais, quando há riscos para a mãe, o feto, ou ambos, durante o trabalho de parto e em algumas situações específicas. Quando realizado respeitando as necessidades dos envolvidos, ele é de grande importância na manutenção da vida e saúde da mãe e do feto. Para este procedimento há indicações absolutas e relativas, que vão depender da avaliação do profissional que estará fazendo seu acompanhamento. Em relação a isso, muitas vezes há indicações desnecessárias, como por exemplo, em situações de feto grande, cesáreas anteriores, circular de cordão, entre outras. Estas devem ser avaliadas, pois dependendo do grau do problema a realização da cesariana só aumentará os riscos no nascimento. Vale ressaltar que cirurgias cesarianas não são procedimentos isentos de complicações, tanto para a mãe, quanto para o bebê, por se tratar de uma cirurgia.
Como complicações deste procedimento podemos citar:
· Para a mãe: hemorragias, infecções, embolia pulmonar e reações indesejáveis à anestesia.
· Para o bebê: dificuldade respiratória e prematuridade provocada quando programada, por ser agendada para antes do tempo normal de nascimento.
· Para os dois: interfere no estabelecimento do vínculo e início da amamentação.
Segundo últimos dados da Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), dos mais de 2,9 milhões de partos que acontecem no Brasil, 521 mil são realizados na rede privada. Apesar de a incidência de cesariana ainda ser alta no Sistema Único de Saúde, que é de 40%, é na rede privada que a situação é mais crítica: 84,6%. A média do país é de 55,6%. A taxa de cesariana recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 15%. Estas altas taxas de cesariana, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil, são preocupantes, e é considerado um grave problema de saúde pública.
Algumas pesquisas mostram ainda que o conceito de que a principal causa do aumento da taxa de cesárea é o respeito ao desejo das mulheres, não tem sustentação na opinião declarada pelas mulheres. Uma melhor comunicação entre médicos e mulheres grávidas talvez possa contribuir para a melhoria da situação atual. O que se observa é que por muitos anos a cesariana tem sido incentivada pelos próprios profissionais médicos apenas pela conveniência de ser mais rápido, além do maior domínio da técnica da cirurgia cesariana em relação às dificuldades que podem aparecer num parto normal. Outro fator que vem ocorrendo é a pouca valorização da autonomia da mulher e da família na tomada de decisão sobre o parto.
A mulher e a família como foco de atenção
A assistência ao nascimento não deve ser voltada para satisfazer os interesses do serviço e da equipe, mas sim aos interesses da mulher e sua família. No momento de escolha de que forma seu filho irá nascer, a mulher tem sido desencorajada a escolher o parto normal. Há diversos medos e mitos acerca deste tema, como a dor, por exemplo. Outro fator é o preconceito, pois por muitos anos o parto normal foi visto como falta de escolha, e que só mulheres menos favorecidas financeiramente teriam esta experiência. Mas contrário a isto, há um movimento a favor desta prática, liderada por países desenvolvidos e pessoas influentes, que vem adquirindo conhecimento sobre os benefícios do parto natural e expondo suas experiências na mídia, desmistificando esta afirmação de que parto bom é o agendado e programado, respeitando assim a natureza e fisiologia que este momento merece.
A mulher e a família devem receber apoio constante da equipe de saúde, e suas angústias e questionamentos devem ser esclarecidos com uma linguagem clara e acessível. Todos os procedimentos a serem realizados devem ser explicados e a mulher deve sentir que os mesmos são realmente necessários e que poderão contribuir para um bom resultado tanto para ela quanto para o seu bebê.
O parto normal – e natural
Neste, quando realizado de acordo com o que é estipulado pelo Ministério da Saúde, tudo começa pelo local do nascimento, que não pode ser um ambiente hostil, com rotinas rígidas; pode ser num hospital, casa de parto ou em casa, estes últimos se de baixo risco, sempre que ali se tenham os profissionais habilitados para o realizarem – enfermeiro obstetra ou cirurgião obstetra – entre outros profissionais que acompanharão todo o processo. A mulher terá o direito de expressar livremente seus sentimentos e necessidades. Ela deve se sentir segura e protegida, e ter a presença de uma pessoa ao seu lado, qualquer um que ela escolher, de acordo com a lei nº 11.108, de sete de abril de 2005, em que os serviços de saúde ficam obrigados a permitir a presença, junto à gestante, de um acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
A mulher tem controle do seu corpo e será a protagonista deste momento. Será realizado com o mínimo de intervenções possíveis. Durante o trabalho de parto, a mulher é orientada em realizar as técnicas de alívio da dor, e ela tem a liberdade de se movimentar e encontrar as posições que lhe ajudem a ficar mais confortável.
Também se evita a separação mãe-filho por qualquer momento desde o nascimento até a alta, e é incentivada a amamentação na primeira hora de vida do bebê, assim, estimulando ainda mais este vínculo.
Contudo, o principal é que a escolha seja legítima, embasada em verdades e respeitando a autonomia da mulher e a necessidade do momento. O nascimento deve ser humanizado, que mesmo na necessidade de uma cirurgia cesariana deve ser respeitado, com tratamento digno para mãe, filho e toda a família, visando a saúde e bem estar de todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário