quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Trombofilia e gestação

Tratamento concluído com sucesso após 182 injeções de Clexane 40mg

Ainda pouco divulgada, a trombofilia associada a gestação é uma importante causa de morbimortalidade materna e fetal.

Segundo o Ministério da Saúde, a trombofilia é definida como tendência à trombose. Classicamente, a trombofilia é dividida em adquirida, representada principalmente pela síndrome antifosfolípide (SAF), e hereditária. São indicações para investigação a ocorrência passada ou recente de qualquer evento trombótico, aborto recorrente, óbito fetal, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, descolamento prematuro de placenta e restrição de crescimento fetal grave, além de história familiar. A gestação, muitas vezes, é a única oportunidade para a investigação destes fatores. A identificação dos mesmos e seu tratamento podem mudar drasticamente tanto o resultado da gestação e qualidade de vida da mulher em idades mais avançadas.

Trombofilia Adquirida ou Síndrome Antifosfolípide

A SAF caracteriza-se pela presença de um ou mais anticorpos antifosfolípides (anticorpo anticardiolipina, anticoagulante lúpico, antibeta2 glicoproteína I), positivos em dois exames, com intervalo mínimo de doze semanas entre eles, associados a pelo menos um dos seguintes critérios clínicos:

• um ou mais episódio de trombose venosa ou arterial.
• morbidade obstétrica: 
- três abortamentos precoces inexplicados; 
- óbito fetal com mais de dez semanas;
- parto prematuro antes de 34 semanas com pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou insuficiência  placentária.

Trombofilia hereditária

Decorre da presença de mutações em fatores envolvidos com a coagulação, que levam à tendência de trombose. As manifestações clínicas são similares àquelas da trombofilia  adquirida.
Os principais fatores de trombofilia hereditária são: de ciência das proteínas C, S e antitrombina, fator V de Leiden, mutação G20210A no gene da protrombina (fator II da coagulação) e mutação C677T no gene da enzima metileno tetrahidrofolato redutase (MTHFR).

Tratamento para SAF e trombofilia hereditária

Anticoagulação profilática

As gestantes com síndrome antifosfolípide ou trombofilia hereditária devem receber profilaxia, que deve ser iniciada, preferencialmente, na segunda fase do ciclo menstrual de possível concepção, e mantida caso a gestação aconteça. Se a gestação ocorrer na ausência da profilaxia, ela deve ser iniciada o mais precocemente possível. 
As portadoras de mutação C677T-MTHFR podem ser abordadas pela suplementação de ácido fólico e vitamina B6 antes da gravidez.
A aspirina, utilizada de forma isolada, é reservada para as mulheres portadoras  de anticorpo anticardiolipina, desde que haja antecedente clínico  ou obstétrico. A dose preconizada é 80 a 100mg por dia via oral. 

Dificuldades de diagnóstico e tratamento 

Tanto os exames para diagnosticar a trombofilia quanto o tratamento com as injeções de anticoagulante são de alto custo, o que provavelmente é a causa de não ser incluído na rotina de exames pré-natais, assim a maioria das mulheres descobrem a condição depois de consecutivas e dolorosas perdas fetais, muitas vezes tardias, já no final da gestação. 
Quando se tem a certeza do problema, outro desafio é conseguir as injeções. 
Para essas mulheres, o ideal é recorrer ao advogado de confiança ou defensoria pública de sua localidade para fornecimento gratuito, seja pelo SUS ou pelo plano de saúde conveniado.

Outra dificuldade é o manejo do tratamento, que é doloroso por ser em geral através de injeções subcutânea diárias de anticoagulante, o que causa muitas vezes dor e hematomas. Abaixo um vídeo mostrando como minimizar esses incômodos , assim como a demonstração da correta aplicação do medicamento ⬇

https://youtu.be/o9w7U5nJnQI

Por ser um problema não muito divulgado, muitos profissionais ainda tem conduta insegura diante dos casos, e diferem de opinião, deixando ainda mais angustiada a futura mamãe . É importante obter opiniões diversas de vários profissionais, em geral obstetras e hematologistas, para maior segurança e tranquilidade.

Por mais que seja cansativa toda rotina de exames e tratamento, tente vivenciar a gestação com trombofilia da melhor maneira possível, aproveitando cada momento e encorajando outras mães que estão passando pelo mesmo diagnóstico. Juntas podemos manter uma boa rede de apoio, compartilhando nossas experiências e mostrando que é possível realizar o sonho da maternidade.

Na foto: Meu filho Samuel, com 3 meses de vida. Trombofilia hereditária portadora de mutação C677T-MTHFR, homozigoze.